tocar
a pele da história
lá onde
não havia escrita
ainda
narrar
a lição do fogo
no balbucio da carne
intraduzível
criar
sílabas perfeitas
nascidas da
língua aprendiz
assim é que
te conheço:
homem e livro.
Sandra R. S. Baldessin
"cuando mi acuerdo de ti" - Maria Amaral, 1993
domingo, 24 de abril de 2005
Ler-te
embriaga-me
trago as tuas marcas
no corpo as uvas
maceradas
no lagar a promessa
do vinho:
embriaga-me.
Sandra R. S. Baldessin
el beso, de Maria Amaral
sábado, 23 de abril de 2005
Cidade*
Azul ferida
latejante,
letra viva.
Cidade da
minha infância,
texto e rio
claro cenário
impresso no
papel-memória.
Leituras e leitores
O jornal Rascunho, edição de março de 2005, traz um artigo interessante do escritor Nelson de Oliveira, texto que discute o tema abordado por ele no seminário Leitura de Inquietações, na mesa redonda – Literatura: só quem a lê é leitor?
Nelson relata que o assunto proposto pelos organizadores do seminário “atazanou” sua vida, enquanto buscava a melhor maneira de expressar sua opinião, que se resume na frase: “Os milhões de brasileiros para os quais Joyce e Rosa, Maiakovski e João Cabral, Kafka e Clarice não fazem o menor sentido, esses não podem ser considerados grandes leitores.”
Declaração polêmica, que o próprio Nelson admite ser politicamente incorreta, mas, segundo seu ponto de vista, a tentativa de ser sutil, quando se trata dessa questão, resvala para a “demagogia e a hipocrisia” Concordo com ele sob esse aspecto.
Discordo, porém, com a definição “alta literatura” com a qual ele classifica as obras acessíveis apenas aos “leitores sofisticados”, aqueles que possuem a chave que abre as portas desse universo de signos tão belos e perturbadores. Essas obras compõem a Literatura, e ponto final. É preciso encontrar palavras que definam e classifiquem todas as demais escrituras que não se identifiquem como literárias.
Pessoalmente, considero uma afronta a Machado de Assis, Nélida Piñon, Guimarães Rosa e, por que não, ao próprio Nelson de Oliveira, classificar como Literatura os livros de auto-ajuda, os livros dos marqueteiros e tantos outros, como por exemplo, aquele lançado pelo jogador de futebol Renato Gaúcho. Livros que tem uma finalidade, que foram escritos para alguma coisa.
A Literatura não tem a menor utilidade, por isso sacia a nossa fome das coisas últimas e não das coisas úteis. As obras verdadeiramente literárias demarcam um território poderoso em nosso imaginário, reinventam os nomes das coisas, o sentir e os sentidos, recriam nações e seus homens, traçando a geografia dos mundos possíveis. Eu me defino como ser-no-mundo quando afirmo: sou do país de Guimarães Rosa, do estado de Mário de Andrade, da cidade de Florideu Gervásio.
A Literatura é inscrição que permanece, corpo-de-saber que, ao criar, instituir e transmitir conhecimentos funda nossa história e influencia nossa identidade, basta relembrar o que Homero representa para os gregos e Shakespeare para os bretões.
Assim, concluo que estou ao lado dos politicamente incorretos. Não por acreditar que o acesso à Literatura deva ser privilégio das elites intelectuais, mas, por não concordar que para se construir uma sociedade mais democrática e igualitária seja necessário baixar os padrões que definem a verdadeira Literatura, coisa mais fácil de ser feita do que uma revolução cultural e educacional que ofereça a chave desses universos para um número cada vez maior de pessoas.
quinta-feira, 21 de abril de 2005
ComCiência
A quem pertence o conhecimento?
Aos cientistas, pesquisadores e pensadores que o produzem? Àqueles a quem é ensinado que, se o aprendem, são também seus co-proprietários? À sociedade que deve dele beneficiar-se e que, sabendo ou não disso, oferece as condições culturais, políticas, econômicas e morais para a sua busca, o seu desenvolvimento, a sua multiplicação e transformação? Aos governos que o financiam, quando o financiam, e que deveriam manter boas políticas públicas para a sua produção, desenvolvimento e apropriação social? Às empresas que dele se apropriam por investimentos, compra, ações jurídicas e/ou judiciais, registros de patentes, lideranças em pesquisas setoriais, propriedade, enfim, do que é de todos, mas com direitos exclusivos de controle e de formas de socialização, via as práticas comerciais vigentes nos sistemas de troca da economia global?
Pelo conhecimento tradicional, às comunidades indígenas, aos sertanejos, aos agricultores, às populações ribeirinhas, aos seringueiros, àqueles, enfim, herdeiros ativos de um longo e depurado saber, em particular no caso da biodiversidade, que, passado de geração em geração, manteve-se como um patrimônio de conhecimento sobre a vivência, a prática e a experiência do convívio com a terra, com as águas, com os animais, com os vegetais e com os minerais que, juntos, compõem os complexos ecossistemas da vida no planeta?
Acesse o link e leia o artigo de Carlos Vogt.
Aurora*
Por entre as
pernas
da noite
vaza o
sol:
luz-que-sangra
Sandra R. S. Baldessin
*esse poema foi inspirado pela contemplação da fotografia do Joze de Abreu (http://jozedeabreu.multiply.com)
Imagem: fotografia de Jozé de Abreu, que gentilmente me permitiu a reprodução.
sujeito indeterminado
pós-menino
pós-si-mesmo
pós-moderno
pós-tudo?
Póstumo!
Pó...
Sandra R. S. Baldessin
imagem:
segunda-feira, 18 de abril de 2005
Dia do Índio
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IRONIA OU HIPOCRISIA?
Ontem, véspera do Dia do Índio, que se comemora hoje, a FUNAI (Fundação Nacional do Índio) homenageou em Brasília 24 líderes indígenas. Enquanto isso, não param de morrer crianças indígenas, principalmente na faixa de um a cinco anos, em Mato Grosso do Sul, por desnutrição. A 19a morreu no sábado passado.
No mês de março, quando já haviam morrido 7 crianças, o senador do PT Delcídio do Amaral afirmou, estarrecido: “Não é confinamento. Onde eles vivem é um campo de concentração”, comparando a situação dos índios com o genocídio dos judeus pelos nazistas.
A ironia começa pelo fato de o governador de Mato Grosso do Sul ser o Zeca do PT. E aumenta quando nos lembramos que a marca do governo Lula do PT foi justamente o “Fome Zero”.
Será que o governo não poderia ter colocado em prática algum plano de emergência para conter a fome na reserva indígena, logo quando surgiram as primeiras mortes, para que a situação não chegasse a essa situação desesperadora?
Um pai perdeu dois filhos em um mês e afirmou que a causa das mortes não é nenhuma doença endêmica ou epidêmica, mas a fome. Ele disse que há vários dias não têm comida em casa. Sobreviver como dessa maneira?
Os índios confinados, presos em uma reserva, deveriam ser pelo menos alimentados. Não têm eles o direito de ir e vir, estão numa espécie de campo de concentração, como afirma o senador do PT, e nada é feito para reverter a miséria, a desnutrição e evitar as mortes iminentes.
A Funai, que deveria zelar pela saúde dos índios, não recebe praticamente recursos para isso. É um órgão que não funciona porque a equipe econômica não libera verbas para que ela tenha condições de suprir as necessidades mínimas dos indígenas.
Como entender que o índio ,que sempre viveu da terra e que a conhece como ninguém, não tenha acesso ao milho, ao feijão, ao arroz, para plantar e continuar se mantendo com o essencial, já que não precisa mais do que isso para sobreviver?
É trágico e ao mesmo tempo vergonhoso assistir à impassibilidade desse governo, que sempre utilizou o combate à fome como marca de campanha, diante das mortes dessas crianças, sem que haja um sinal concreto de transformação dessa realidade.
Hoje, Dia Nacional do Índio, em muitos lugares serão feitas homenagens a eles, homenagens justas, mas que se tornam profundamente irônicas, hipócritas, diante da omissão do governo e da sociedade, que lêem as notícias das mortes dessas crianças indígenas como mais um dado estatístico entre tantos.
19 crianças já morreram em Mato Grosso do Sul nos últimos meses. Quantas mais morrerão para que o governo coloque a mão no bolso e evite que outras tantas mortes aconteçam?
Não há desculpa possível para justificar essas mortes.
Requiem para o índio no dia dele
No Dia do Índio
meninas e meninos
índios
morrem de desnutrição.
No Dia do Índio...
Que dia é esse
se a morte
foi tecida
pela sociedade
e pelo governo
para lembrá-lo
só como um símbolo?
Criança
não quer ser símbolo de nada.
Tem fome
e direito ao alimento.
Dezenove crianças indígenas
já morreram
de desnutrição
em Mato Grosso do Sul.
Cruel ironia.
Hoje, 19, é dia do Índio.
De que índio?
Dos que morreram
até hoje
massacrados pela fome
a violência
e o descaso?
Ou dos que sobrevivem
duramente
desesperadamente
até a miséria
e a gula
dos que governam
os engolir
i m p i e d o s a m e n t e?
Hoje é Dia do Índio.
Não, hoje, como sempre,
é dia de quem trata
o índio
como se fosse uma lenda,
um mito.
Hoje é dia de quem não está
nem aí
para o índio.
Hoje é o dia
de nos lembrarmos
daqueles
que canibalizam
e canibalizaram
o índio.
domingo, 17 de abril de 2005
Comunidades virtuais
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Ambientes colaborativos e trabalho em redes
A chamada sociedade da informação e do conhecimento traz consigo impactos capazes de levar a uma transformação maior que a produzida pela máquina a vapor. Junto com novas soluções e perspectivas vêm também novas exigências de habilidades novas, como saber “navegar” na Internet, algo entre o metódico e o caótico, mas também novas exigências sobre antigas habilidades, como o ser organizado, o saber escrever em seu idioma, ler outras línguas, comunicar-se, publicar...
Para que exista vida numa comunidade virtual, é importante pensar-se sempre no que as pessoas estão fazendo ali. Pessoas só se juntam em comunidade por interesse, por prazer ou por obrigação. Uma comunidade escolar começa por ser obrigatório freqüentar a escola. Uma comunidade profissional inicia-se pelo interesse das pessoas em ganhar seu sustento. Um grupo de amigos fazendo um churrasco num final de semana tem como motor o prazer do convívio.
Num ambiente de trabalho ou convívio em rede as coisas não são diferentes. Num primeiro momento, a curiosidade pode levar as pessoas a se cadastrar numa comunidade virtual, mas em poucos dias o interesse inicial pode virar abandono se não houver para todos interesses claros em jogo, se não houver uma necessidade real de estar conectado, seja por lazer, por motivos políticos ou profissionais.
Assim como, na vida real, pequenos lugarejos crescem economicamente ao fazerem trocas com outros, construindo estradas e pontes a ligá-los, trocando bananas por café através de camiões ou trens, promovendo novas amizades, casamentos, construindo relações econômicas e culturais, num caminho que acabou levando à construção das nações – também na vida virtual a coisa se processa de modo semelhante, trocas, pois o fator principal é o mesmo: a humanidade.
Também como numa comunidade real, criar e manter uma comunidade virtual dá muito trabalho, de construção, de manutenção, de administração. No início é até mais difícil, pois trata-se de um novo paradigma, é necessário levar as pessoas pela mão, explicar o que é cada ambiente, como funciona cada ferramenta. Quase como se tivéssemos que ensinar um marciano a pegar um táxi ou usar um telefone público, coisas desconhecidas para nosso improvável alienígena.
É preciso cuidar de construir os “edifícios” dessa comunidade (bancos, escolas, bibliotecas, hospitais) e depois recheá-los de conteúdos e ter profissionais engajados na sua manutenção, pois além de produtos (dinheiro no banco, livros nas bibliotecas, remédios nas farmácias) temos aqui serviços (professores na escola, médicos nos hospitais, juízes nos tribunais). Tudo isso exige lei e ordem, regras claras de comportamento, bem como um mínimo de democracia para que o autoritarismo não mate os saborosos frutos que só a liberdade produz. Tudo isso exige administração, uma prefeitura e alguns funcionários públicos, senão os serviços essenciais podem impedir a fluidez de circulação dos bits (pois que numa comunidade virtual circulam os bits e não os átomos, circulam os bytes e não as moléculas).
Na sociedade da informação as pessoas não mais precisam deslocar o corpo para acessar uma informação (pegar um ônibus para ir à biblioteca antes que feche), mas agora fazemos a informação vir até nós. Isso muda um bocado o jeito de fazermos coisas que já fazíamos antes, e é esta mudança paradigmática que precisa ser trabalhada, com estímulo, com organização, com objetivos, com esforço individual e coletivo.
Um ambiente virtual colaborativo e interativo pressupõe regras de convivência, o que, por se tratar de uma coisa nova, as pessoas parecem se esquecer. Por exemplo, é fundamental cada um cuidar de sua aparência, ou seja, ter seu perfil online bem preenchido, de preferência com uma foto para que os demais tenham uma referência visual. Também é muito importante que as mensagens trocadas possuam um mínimo de cordialidade, comecem com os tradicionais bons dias e terminem com um abraço ou algo mais formal, o importante é não transmitir para a outra pessoa a impressão que você é um software ou, pior, que você acha que ela é algo parecido com um caixa automático de banco.
Para melhor ilustrar esta nossa digressão pelo mundo virtual, vamos conversar um pouco a respeito de alguns ambientes e suas possibilidades de uso. Alguns exigem sincronicidade de seus participantes (como uma partida de futebol, onde todos têm que estar no campo ao mesmo tempo), por exemplo, as salas de chat, os comunicadores instantâneos, como o ICQ e outros. Outros permitem que cada um acesse assincronamente (como numa partida de xadrez por correspondência), como os fóruns, o e-mail, os blogs, as áreas de armazenamento de documentos e imagens etc.
Cada ambiente, cada ferramenta, adequa-se mais ou menos a diferentes materiais e objetivos, bem como se adequa diferentemente a cada tipo de usuário. Geralmente personalidades mais introvertidas preferem interagir assincronamente, ao passo que os mais “sociais” preferem as ferramentas síncronas. Mas assim como, ao volante de um carro, uma pacata e educada senhora pode virar uma gritadora de palavrões cabeludos, ou um tímido e doce rapaz se transforma num violento e perigoso assassino do asfalto, também no mundo virtual ocorrem estranhas mudanças de comportamento.
Para que uma sala de chat (também chamada mais brasileira e informalmente de sala de bate-papo) seja útil para uma comunidade virtual, é importante que haja uma programação fixa com temas e convidados. Por exemplo, todas as quintas-feiras das 16 às 18 horas haverá um convidado falando sobre doenças infecto-contagiosas. Às terças-feiras, das 10 ao meio-dia, a temática será a programação de filmes do cineclube local, sempre com um convidado especial. Num caso destes, há que se ter moderação na sala, para expulsar os inconvenientes, para dirimir dúvidas que atrapalhem o convidado se a ele formuladas, para lidar com os atrasados entrando na sala de chat (uma das maiores pragas dos chats, pois que é mais fácil se atrasar aqui que no mundo real, embora também seja mais fácil chegar na hora certa!).
Um problema dos chats (assim como os auditórios reais) é o da lotação. Geralmente, acima de 30 ou 40 pessoas fica impossível haver conversação útil, pois o rolar da tela com inúmeros diálogos impede que qualquer ser humano normal possa acompanhar o que se discute – menos ainda o convidado, que nessas circunstâncias surta e nunca mais deseja repetir tal experiência! Para isso, costuma-se fazer com que as pessoas que “sobram pra fora da sala” possam acompanhar o que se discute, mas sem escrever mensagens, uma espécie de voyeurs virtuais. Além disso, uma vez ocorrida a conversa, a mesma pode ser gravada e publicada, permitindo que qualquer um possa posteriormente acompanhar o que ali se discutiu. É de bom-tom que um caridoso editor corrija falhas de digitação dos participantes, assim como na transcrição de uma gravação de palestra não se colocam as tosses nem os gaguejares, pois que o que é tolerável ao vivo fica péssimo publicado sem edição.
Os fóruns são ambientes sobejamente conhecidos mas poucas vezes bem utilizados. O excesso de repetições, a falta de temáticas bem orientadas, a pouca habilidade das pessoas, em geral, de saberem escrever de modo comunicativo, levam muitas vezes a que um importante tema seja muito maltratado e as pessoas mais preparadas e com maior contribuição a dar se sintam alijadas ou alheadas. É fundamental haver moderação, estímulo e edição nos tópicos e nas mensagens. Muita gente teme que esta moderação e edição possa chegar às raias da censura, e esse é sempre um perigo a ser trabalhado com muita competência! Um fórum sobre câncer não pode ter mensagens acerca de diabetes, a não ser que numa relação entre ambos os assuntos, sob pena de perder seriedade e foco; neste caso o moderador deve mover a mensagem para o tópico adequado e comunicar o usuário sobre sua ação. Uma mensagem acerca de acidentes de trânsito não pode ter uma propaganda de companhia de seguros no rodapé do texto, para não configurar merchandising; neste caso, o moderador suprimiria o trecho propagandístico e advertiria o usuário. Uma mensagem com erros de digitação, ou toda escrita em maiúsculas, pode comprometer o produto, editorialmente falando, afastando leitores e usuários do fórum, transmitindo uma “falta de asseio” no fórum; neste caso cabe uma correção do texto em seus aspectos mais gritantes, tal como a seção de cartas do leitor de um jornal, corrigir sem censurar, ao contrário, evidenciando o texto original.
Os blogs são a atual “febre” da juventude interneteira, permitindo fazer diários de bordo, assinalar os passos nas navegações online e no mundo real, os pensamentos e as emoções, compartilhando na rede de uma forma jamais vista antes. Para uso profissional ou acadêmico, os blogs são ferramentas de fácil e intuitivo manuseio, permitindo que cada um seja autor, não só consumidor de informação. Mais importante que surfar na rede é aprender a fazer onda, e é inegável que esse é o grande diferencial da rede mundial em relação às demais mídias, tão poderosas no broadcast de conteúdos globalizados e tão fechadas para as pequenas comunidades, para a autoração e publicação individual. Mas os blogs não servem somente para a expressão individual, pois podem ser “diários de bordo” de grupos também. Seus usos ainda estão em pleno desenvolvimento, mas vale mencionar seu uso profissional como registro de atividades, atas de reunião, acompanhamento de processos, relatórios de viagem, documentação de projetos, apresentação de atividades em grupo de trabalhos escolares etc.
Os acervos de arquivos, sejam imagens, textos, planilhas eletrônicas, animações em flash, palestras em mp3, documentos em pdf, apresentações de slides, pequenos utilitários, plug-ins etc. são outra importante ferramenta colaborativa. Este tipo de ambiente tanto pode ser para uso coletivo e público, como pode servir de “armário” pessoal para um profissional guardar online seus principais arquivos, a serem usados em outra cidade, ou mesmo como back-up para os seus principais textos, planilhas, apresentações e dados. Uma área pessoal do usuário deve permitir que o mesmo possua anotações, como números de documentos, remédios que toma etc., listas de tarefas, calendário a agenda pessoal, além da área de arquivos pessoais.
Numa comunidade virtual é fundamental haver também um calendário, onde se assinalam os principais eventos, seja um feriado nacional, seja um seminário ou um congresso da área. Do mesmo modo, a lista de usuários deve funcionar também como uma agenda de contatos, permitindo que os telefones pessoais ou comerciais, correio eletrônico e outros dados que o usuário julgue importantes sejam compartilhados. Dentre essas ferramentas gerais podemos mencionar também uma forma da pessoa acompanhar o histórico de atualizações desde que se conectou pela última vez, ver uma lista dos arquivos e seções mais consultadas, poder acompanhar as estatísticas de acesso à comunidade, busca por palavra-chave no conteúdo dos diversos ambientes, e tantas outras que seria enfadonho aqui as enumerar.
Num ambiente na Internet seria impensável não existir um diretório de links, organizado por categorias e de preferência com comentários descrevendo o que espera o internauta no final de seu clique. Não se deve pensar em nada exaustivo, competindo com os googles e yahoos da vida, que já cumprem sua função para o megauniverso da Internet como um todo. Trata-se, ao contrário, de dar consistência e foco a um universo menor e mais especializado, assumindo assim um papel de orientação que os referidos mecanismos de busca universal não possuem. Num ambiente destes é fundamental a contribuição de todos e, mais uma vez, um editor/moderador para organizar links repetidos, conferir digitações erradas, aprimorar as descrições, organizar as categorias.
Um ambiente indispensável para uma comunidade que lida com conteúdos científicos é o de publicação de artigos, sejam os produzidos especificamente para publicação nessa ferramenta, sejam os publicados em outros locais e aqui compartilhados (tomando-se em conta a questão dos direitos autorais, cheia de curvas e contra-curvas). Cada artigo novo colocado na seção respectiva pode apresentar uma chamada na página de entrada da comunidade virtual, funcionando como a primeira página de um jornal, que leva seus leitores para os diversos cadernos internos. Um instrumento útil é haver link para a tradução automática do texto, de resultados desastrosos em textos poéticos, por exemplo, mas de muita ajuda e razoável qualidade em textos mais técnicos e objetivos, pois permite ao menos saber do que se trata, quando num idioma que não se domina.
Todos esses conteúdos enriquecem, ao mesmo tempo em que trazem ainda mais entropia ao ambiente, pois é do excesso de informação que é feito o caos do mundo virtual. Se o jeito mais fácil de se esconder um grão de areia é na praia, o que diremos de uma informação a mais num já indigerível conjunto como o que descrevemos até agora? O navegador do mar das informações, assim como nossos antepassados com suas caravelas no mar, deve orientar-se por mapas, pelas estrelas, deve ter um destino, embora aberto a novas descobertas no percurso. Assim como a inteligência em nosso cérebro resulta das sinapses entre os neurônios e não nestes, também num ambiente rico em informações é fundamental criar as ligações entres estas, tecendo assim uma teia (web) de sinapses virtuais. Os links são, desde o nascedouro da Internet, essas ligações. Colocá-los, porém, exige de modo geral um conhecimento mínimo de edição em html. Para resolver este problema, foi inventado um interessante um sistema de criação e edição de páginas na internet chamado wiki, um sistema cada vez mais presente em comunidades virtuais.
Segundo Ward Cunningham, seu criador, "as idéias do wiki podem parecer estranhas à primeira vista, mas mergulhe e explore seus links. Wiki é um sistema de composição; é um meio de discussão; um depósito; é um sistema de correspondência; é uma ferramenta de colaboração. Na verdade, temos dificuldade em defini-lo, mas é uma forma divertida para se comunicar de forma assíncrona pela rede". Um bom exemplo desta tecnologia é a Wikipedia (www.wikipedia.org), uma enciclopédia colaborativa online aberta, onde qualquer um pode escrever, rever ou comentar novos artigos.
A coisa funciona mais ou menos assim, você escreve no seu blog uma entrada comentando um artigo que leu e faz um link para esse artigo, de modo que todos possam clicar nele e abri-lo imediatamente. Seu comentário no blog acerca desse artigo pode ser referenciado no meio de uma discussão no fórum, através de um link para ele. Do mesmo modo, outros blogs podem fazer diferentes comentários acerca do mesmo assunto e seus autores criarem seus links para o artigo original e para os blogs uns dos outros. O sistema wiki permite que uma pessoa sem nenhuma experiência em edição de páginas na web possa rapidamente publicar conteúdos e fazer links com outros conteúdos já publicados, permitindo inclusive que as pessoas interfiram nas páginas uns dos outros (algo que muitas vezes mais atrapalha do que ajuda, mas que faz parte da filosofia wiki).
Você já deve ter se deparado com estes dois fenômenos opostos: ao ter que ir procurar informação, muitas vezes nem se lembra mais de sites que gostou muito ao visitá-los pela primeira vez (mesmo guardando-os nos bookmarks, acaba sendo tanta coisa que o esquecimento é provável); ao contrário, ao ter a informação vindo a seu encontro (através de correio eletrônico), a lixo, as propagandas de gosto duvidoso, a enorme quantidade do chamado spam (marca de presunto que um filme do Monty Phyton imortalizou como sinônimo de inutilidade), tornam quase impossível ler nosso próprio correio, muitas vezes nos levando a apagar inadvertidamente mensagens importantes. Para a vida numa comunidade virtual essa é uma questão vital, pois quanto mais cresce, mais difícil fica navegar em seu conteúdo, mais coisas nos passam desapercebidas. Lev Landau, físico soviético que foi Nobel de física em 1962, disse que “o conhecimento é como uma esfera, que ao aumentar de volume aumenta também o número de pontos em contato com o desconhecido”.
O RSS (Rich Site Sumary) é um formato de arquivo padronizado mundialmente para troca de notícias. Ao usar RSS, você pode ler as manchetes de seus sites preferidos sem precisar visitá-los a todo o momento. Cada seção da comunidade pode ter seu “canal RSS” e, assim que uma seção que você se interessa é atualizada, você é imediatamente avisado, podendo ler o título e um resumo inicial antes de clicar e ir ou não para a página em questão. O mesmo formato pode ser usado para inserir notícias de outros sites automaticamente, sem necessidade de edição ou inserção de conteúdo. Isso ajuda a criar movimentos de “puxar e empurrar” informação e criar novas estratégias de acesso aos conteúdos, superando a entropia da rede e a enorme quantidade de lixo produzida. Um formato como este, inclusive por ser feito em padrões abertos (baseado em XML), permite a criação de vínculos e trocas entre diferentes comunidades, além de pavimentar as estradas hoje tão esburacadas de nosso “asfalto virtual”.
Uma vez que estamos a falar em navegação, estradas e outras metáforas que tão bem designam o mundo virtual, é indispensável falarmos em mapas para orientar nossas caminhadas. Tanto os mapas georreferenciados, que permitem fazer com que cada pessoa na comunidade seja assinalada por um pontinho no local onde vive, nos dando uma importante referência da distribuição geográfica dos integrantes de uma determinada comunidade, como os mapas conceituais, onde podemos visualizar as relações entre grupos de usuários na comunidade, através do mapeamento de suas trocas de mensagens, de sua publicação de conteúdos, de sua freqüência maior ou menor nos diversos ambientes da comunidade, dos interesses e características que possuam em comum. Estas ferramentas de mapeamento são imprescindíveis para os gestores da comunidade (bem como para estudiosos do comportamento virtual) e para seus membros, pois permitem identificar “áreas mortas” no ambiente, grupos de usuários mais ativos ou quase desligados, e assim estabelecer e acompanhar políticas de incentivo e resolução de problemas.
Rankings são interessantes mecanismos de acompanhamento e estímulo à utilização da comunidade virtual. Um sistema de pontuação que acrescente pontos para o usuário cada vez que ele entra no sistema, a cada hora que ele permanece ligado, para cada artigo que ele lê, mais pontos para um artigo que ele coloque, que pontue cada vez que ele participa de um chat ou entra num fórum, que dê pontos a cada vez que seu perfil é consultado por outros membros da comunidade, é um motivador muito forte para muitas pessoas e um indicador fundamental para os administradores da comunidade virtual, permitindo acompanhar o acerto ou erro das políticas estabelecidas.
Finalmente, pois o assunto ainda daria muitas laudas para continuar, mas quero terminar o artigo antes que sua paciência acabe primeiro, é muito importante a existência de boletins periódicos (semanais ou mensais) que tragam as principais novidades da comunidade no período, bem como uma edição da página de entrada com os destaques do dia ou da semana. Além disso, a promoção de encontros presenciais sempre que possível deve ser organizada ou estimulada, pois o virtual não serve para eliminar o presencial, ao contrário, potencializa e fortalece esses momentos. Quando nasce o primeiro bebê de verdade gerado de um casamento de pessoas que se conheceram no mundo virtual, percebemos todos que não existe diferença entre virtual ou real quando ambos estão a serviço da mesma causa: o ser humano.
Carlos Seabra
O segredo da felicidade
Description:
Há muito tempo, em uma terra muito distante, havia um jovem rapaz, filho de um rico mercador, que buscava obstinadamente o segredo da felicidade.
Já havia viajado por muitos reinos, falado com muitos sábios, sem, no entanto, desvendar tal questão.
Um dia, após longa viagem pelo deserto, chegou a um belo castelo no alto de uma montanha.
Lá vivia um sábio, que o rapaz ansiava conhecer.
Ao entrar em uma sala, viu uma atividade intensa. Mercadores entravam e saíam, pessoas conversavam pelos cantos, uma pequena orquestra tocava melodias suaves.
De longe ele avistou o sábio, que conversava calmamente com todos os que o buscavam.
O jovem precisou esperar duas horas até chegar sua vez de ser atendido.
O sábio ouviu-o com atenção, mas lhe disse com serenidade que naquele momento não poderia explicar-lhe qual era o segredo da felicidade.
Sugeriu que o rapaz desse um passeio pelo palácio e voltasse dali a duas horas.
"Entretanto, quero pedir-lhe um favor." – completou o sábio, entregando-lhe uma colher de chá, na qual pingou duas gotas de óleo.
"Enquanto estiver caminhando, carregue essa colher sem deixar o óleo derramar."
O rapaz pôs-se a subir e a descer as escadarias do palácio, mantendo sempre os olhos fixos na colher.
Ao fim de duas horas, retornou à presença do sábio.
"E então?" – perguntou o sábio – "você viu as tapeçarias da pérsia que estão na sala de jantar?
Viu o jardim que levou dez anos para ser cultivado?
Reparou nos belos pergaminhos de minha biblioteca?"
O rapaz, envergonhado, confessou não ter visto nada.
Sua única preocupação havia sido não derramar as gotas de óleo que o sábio lhe havia confiado.
"Pois então volte e tente perceber as belezas que adornam minha casa." – disse-lhe o sábio.
Já mais tranqüilo, o rapaz pegou a colher com as duas gotas de óleo e voltou a percorrer o palácio, dessa vez reparando em todas as obras de arte.
Viu os jardins, as montanhas ao redor, a delicadeza das flores, atentando a todos os detalhes possíveis.
De volta à presença do sábio, relatou pormenorizadamente tudo o que vira.
"E onde estão as duas gotas de óleo que lhe confiei?" – perguntou o sábio.
Olhando para a colher, o rapaz percebeu que as havia derramado.
"Pois este, meu rapaz, é o único conselho que tenho para lhe dar: – disse o sábio – o segredo da felicidade está em saber admirar as maravilhas do mundo, sem nunca esquecer das duas gotas de óleo na colher."
Ingredients:
Recebi esse conto de minha querida amiga, a também contadora de histórias Marília Tresca.
Directions:
"Fui ao moinho, moí a farinha
quem quiser que conte a sua
pois eu já contei a minha."
sábado, 16 de abril de 2005
Anete falando com seus botões
Por que eu deveria me preocupar com essas coisas? Há vinte anos, sim, me aplicariam eletrochoques... E eu, pobre de mim, teria que me conformar em ser uma prosaica professora de matemática, divorciada, ainda por cima. É claro que as coisas mudaram. Mas, será que as pessoas mudaram? Os psicanalistas que se apressem para inventar outros distúrbios rapidinho: psicose e personalidade cindida já eram. Tudo isso, hoje, é encarado como criatividade, pode acreditar! Tudo o que precisamos é esse paraíso psicótico traduzido em bytes. Nele, somos tudo que sabemos ser e não nos atrevemos. Isadora Duncan, ressurreta, diamantes circundando o pescoço... Ou, quem sabe, Remédios - a Bela. É um mundo tão bom quanto qualquer outro. Eu diria melhor que qualquer outro. Principalmente agora, que a mídia inventou a mulher.A realidade não existe mesmo, não é isso que está escrito naquela revista científica? Eu sou uma ilusão, não somos o que pensamos que somos. Nesse caso, é melhor projetar a imagem de Nefertite, Aspásia, talvez. Melhor a Gisele mesmo, por que não? Gisele Bündchen. No fundo, no fundo, tudo se resume em aplicar o algoritmo certo... Mas, cadê a maldita caixinha do prozak?
Sandra R. S. Baldessin
Imagem: "Dance of light" - Olga Sinclair, 1999.
GENTE
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As pessoas não se cansam de procurá-la, a tal da felicidade. Em matéria de definições, também não faltam “profissionais” para descrever suas características para que possamos reconhecê-la quando passar por nós. Afinal, vivemos uma época em que é muito chique viver cercado de consultores que nos ensinam tudo: desde a roupa que devemos usar, passando pelas palavras que devemos dizer, até a forma como devemos nos comportar (inclusive na intimidade) para que as outras pessoas nos apreciem.
Não há dúvida que o tema da nossa felicidade interessa a muita gente, é por isso que nas prateleiras das livrarias encontramos os mais variados títulos de livros, nos quais os autores se empenham para nos mostrar como alcançar a felicidade em, no máximo, dez passos; também se esforçam por nos ensinar as suas formulazinhas mágicas, para que não tenhamos o trabalho de ter que desbravar o caminho a ser seguido, pois sempre podemos recorrer aos atalhos propostos por esses especialistas em promover a felicidade alheia.
A enorme oferta de manuais que nos ensinam como ser felizes, como alcançar o sucesso, como melhorar a auto-estima, como conquistar o homem (ou a mulher) ideal, que bichinhos de estimação escolher, demonstra como os tais especialistas estão se dedicando em tempo integral a nos indicar o caminho dourado da felicidade. Esse pessoal, sem dúvida, levou a sério o dito popular: “se conselho fosse bom, ninguém dava, vendia” – pois foi exatamente o que aconteceu! Transformaram os conselhos em objetos de consumo e, como num passe de mágica, saíram da cartola centenas (ou seriam milhares?) de experts e personals aptos a transformar a vida de qualquer um que possa pagar no lendário mar-de-rosas.
Na contramão da indústria da felicidade, às vezes temos ocasião de conhecer os legítimos “consultores em vivência plena”, e, nessa segunda-feira, desfrutei da companhia de uma delas; faço aqui o seu retrato falado: Dona Felicidade, conforme está escrito em sua certidão de nascimento, nasceu nos confins de Minas Gerais, mas, há 44 anos vive em Rio Claro, mais exatamente no Jardim Progresso, bairro muito pobre, localizado na periferia da cidade.
Está com 69 anos, é casada e teve 18 filhos, dos quais 9 sobreviveram. A sua beleza pode ser vista nos olhos buliçosos, que guardaram aquele “ar de infância”; nas suas falas simples, sempre reafirmando a fé na vida. Confessou-nos que, ler, não sabe, nem escrever, mas, em nenhum momento demonstrou que esse fato poderia de alguma forma subtrair a sua dignidade de mulher batalhadora.
A sua alegria de viver, a sua gratidão pelo dom da vida, da saúde, da solidariedade encontrada no próximo, nos contagiou, iluminando a nossa semana. E Dona Felicidade não cobrou nada para nos ensinar que cada novo dia que nasce vem repleto de promessas que, podem sim, ser cumpridas na realidade.
Essa história poderia ser uma fábula, e, como tal, cabe a reflexão: tudo é lição para quem tem coração aprendiz.
Sandra R. S. Baldessin
*publicado originalmente no Jornal Cidade de Rio Claro
sábado, 9 de abril de 2005
Série Poemas para Devorar
chilis en nogadas:
pimentas, pimentas
vermelhescuras
picantes
mergulhadas no molho
de nozes.
À aspereza do creme
adiciona-se o sabor
das tuas mãos que
me alimentam.
A fantasia.
Sandra R. S. Baldessin
imagem: http://www.fabricattic.com/Bright%20chilis.jpg
Suor do tempo
Rating: | ★★★★★ |
Category: | Books |
Genre: | Literature & Fiction |
Author: | Luiz Martins Rodrigues Filho |
Suor do tempo, livro de poemas publicado em 1979, traz momentos de poesia tão sensitiva, tão plenas de nostalgia, que nos envolvem numa atmosfera de irrealidade. Eu me pergunto: as lembranças são do poeta ou ele se apoderou das nossas lembranças e fez delas poesia?
Peixe
No aquário a fome das crianças
o embala.
Fome de novidades.
De distinguir as suas cores, os seus movimentos,
os menores reflexos de suas escamas.
E o peixe, reduzido à água sem vida
e sem agitação,
prisioneiro de seu próprio elemento,
todo se dá, gratuito,
à fome lírica das crianças.
(1959)
Pureza
Ela trazia lírios nas mãos,
lírios que nunca feneceriam
porque nasciam de suas mãos.
(1946)
Transubstanciação
Teu corpo tem as raízes fincadas no chão
na terra
teus cabelos levam às constelações os últimos recados de pureza
eu quero possuir-te ó Única
para que o meu sangue transfundindo-se no teu
faça a viagem espantosa.
(1948)]
As tardes da memória
As tardes da memória.
No ar lavado as andorinhas.
Na terra um gesto bom
pousando na mão teimosa.
Em tudo um cheiro a remédio
misturado com o ranço de livros velhos.
As tardes da memória
por que perpassa uma gata sestrosa chamada Kyrie.
Cadeira de palha vazia.
O corpo que nela se balançava
hoje
se balança fofo nas nuvens.
Tardes sensitivas.
As andorinhas, Kyrie, o gesto bom.
As tardes despencam de meus olhos.
1974)
Imagem: Entardecer. Disponível em: http://www.durbem.mus.br/Entardecer
Alegoria
transitando à
margem
do corpo
leio-me:
letra e
labirinto.
Sandra R. S. Baldessin
imagem: auto retrato da série "Outras de mim"
domingo, 3 de abril de 2005
fim-de-semana
Contorno a
sexta-feira
que me crava seus punhais...
Sigo, cerrando os dentes,
contra o sábado
que se anuncia
pleno de ferrugem.
Se a lua é cheia,
insana migro
para dentro do
útero da noite.
Nunca responder
as perguntas
e domingo.
Amanhã é
segunda-feira!
Mostra Multidisciplinar - Corpo
Rating: | ★★★★★ |
Category: | Other |
A mostra traz uma seleção de 114 obras, 55 vídeos, registros fotográficos de 35 projetos históricos e cinco performances. Dentre os 80 artistas participantes estão Antonio Dias, Adriana Varejão, Cildo Meireles, Ernesto Neto, Lygia Pape, Márcia X, Rosãngela Rennó, Tunga, Waldemar Cordeiro e Wesley Duke Lee. Segundo os curadores, Fernando Cocchiarale e Viviane Matesco: "A compreensão teórica e prática do papel do corpo na arte passou por uma revolução radical em relação àquela do passado idealizado da arte clássica e da licença formal com que foi tratado no modernismo. Na década de 60, o corpo assume papéis e configurações diferentes com a introdução do happening e o desenvolvimento de modelos participativos que integram o público em experiências sensoriais. Nos anos 70 o corpo passa pela contracultura e o clima de protesto político. Chega às gerações 80 e 90 marcado pelas novas tecnologias e pelo retorno ao objeto"
Para quem possui uma base teórica que fundamenta a análise das obras, como por exemplo, as teses de Baudrillard, Lyotard, Louise Bourgeois e Bataille e, principalmente, o Eu-pele, de Didier Anzieu (cujo livro recomendo enfaticamente a leitura) a exposição se torna mais apaixonante ainda.
Eu não assisti nenhuma das performances, porque, no dia de minha visita não havia programação desse tipo agendada; a próxima performance vai acontecer no dia 9 de abril, a partir das 16h, quando o artista José Eduardo Garcia de Moraes (DF) fará uma performance sem título, criada em 2004. São utilizadas duas geladeiras e alguns produtos vendidos em supermercados, como iogurte, água mineral, garrafas de refrigerantes, isotônicos. O artista retira um a um os produtos das geladeiras e os atira ao alto. Quando eles caem no chão, estouram, formando um desenho.
Dia 16/04, a partir das 16h, Michel Groisman (RJ) apresenta Sirva-se, 2004. No trabalho participativo, o público é convidado a realizar uma experiência lúdica de investigação do próprio corpo utilizando um conjunto de copos, desenvolvido pelo artista e adaptável às diferentes partes do corpo. Cada participante recebe um conjunto de copos e é orientado a posicioná-los em partes específicas do corpo. Em seguida, coloca água em um dos copos e inicia sua investigação dos movimentos necessários para passar o líquido de um copo ao outro. Ao experimentar as possibilidades de passar a água por todos os copos, o participante descobre o circuito da água. Trata-se, portanto, de um enigma corporal: guiado pela fluidez da água, cada um desvenda os caminhos do seu próprio corpo. A performance se estende por até 3 horas.
Nesse contexto todo, tenho apenas uma crítica: a ausência (que é quase uma presença) de Nazareth Pacheco, cuja obra, segundo Mirian Schanaiderman é experenciada no corpo dos seus leitores: "somos tomados pela vertigem de um mundo que nos estraçalha, esparramando vísceras em orgasmos bizarros entre a dor e o êxtase."
Visitação: 30/03 a 29/05 de maio, terça a sexta, das 10 às 21h; sábados, domingos e feriados, das 10 às 19h. (entrada franca)
Visitas monitoradas: agendamento para grupos pelo telefone (11) 2168-1876 e informações na recepção.
Itaú Cultural - Avenida Paulista, 149; (11) 2168-1776/1777; www.itaucultural.org.br; atendimento@itaucultural.org.br
imagem: obra de Ana Miguel
reality show*
sábado, 2 de abril de 2005
Grupo de Pesquisa Corpos Informáticos
"Reduzir o corpo a um conjunto organizado de músculos, ossos, nervos, vasos, é como reduzir esta planta a raiz, caule, folhas, flores, - enquanto ela é ao mesmo tempo tudo isso e jardim, e crescimento e sombra e murchidão e sede e estremecimento ..." Simonne Ramain
Esse sítio é muito interessante; traz um estudo interdisciplinar sobre o corpo. Interessa às várias vertentes da Arte. A visita tem que ser calma, é preciso desfrutar e introjetar as palavras e imagens e apreender as várias teleperformances, mas vale cada minuto de navegação.
Link associado: http://www.corpos.org/telepresence2/index.html
poema que pergunta:
Se fomos
para o amor
talhados,
por quê
voltamos
amortalhados?
Sandra R. S. Baldessin
imagem: "Mujer llorando" - quadro de ramiro Sacco. Disponível em: www.conelarte.com/.../ Ramiro_Sacco0404.htm
Estrada Bonita
Fotografias feitas por mim, exceto as duas nas quais apareço. O local fica próximo à cidade de Joinville, num atalho que se toma a partir da BR 101. Aproximadamente 8 km que, de preferência, percorremos a pé, desfrutando a exuberância da natureza. Nas casas existentes no local, os descendentes dos antigos colonos comercializam cucas, geléias, artesanato, licores, mudas de plantas. Uma festa sensorial.